1° Congresso Nacional da Vida Religiosa
Pequeno roteiro de um Grande Congresso
Tema : A Sociedade atual e a Religião
Imagine, por um momento, o imenso Santuário Nacional de Aparecida, imerso na maior penumbra possível, sem perder sua vocação acolhedora de Casa de Oração, recebendo as religiosas e os religiosos, do assim consensualmente denominado: Primeiro Congresso Nacional da Vida Consagrada do Brasil, em uma noite, marcadamente fortalecida pelo clima pascal que então a tudo envolvia.
Do altar central a maioria de participantes, sob a inspiração do mantra repetidamente entoado “Para ti, Senhor, toda noite é dia…” se apresentaram pequenas e aparentemente inofensivas velas passaram a ser acesas, num ritmo celebrativo, que lentamente se impôs frente à proclamação de Cristo como” luz do mundo, esplendor do pai…” Luzes lentamente fixadas espantando as trevas, devolvendo cores, para finalizar proclamando em um templo total e absolutamente iluminado, que ressuscitados com Cristo, podemos confiantes, partilhar os sinais de luminosidade presentes nas histórias e na vida das nossas Comunidades, visando devolver a todos as alegrias existentes na vida consagrada, em suas múltiplas e criativas manifestações.
Certamente havia um grande círio original de onde, simbolicamente, tais luzes partiram, e esse era o tema geral do encontro: “Assumir o núcleo identitário da vida consagrada: Atitude profética, processo mistagógico” e um lema escancaradamente exposto ao longo de toda a semana entre 07 e 10 de Abril p.p. “Não ardia nosso coração quando Ele nos falava pelo caminho”..( Lc 24,32). Juntos representavam o desejo da CRB Nacional de animar e fazer arder o coração dos (as) participantes, em número aproximado de 2.200, (duas mil e duzentas pessoas) vindos (as) de todas as regionais do país, mesmo que o grupo majoritário, até pela proximidade, era do Regional São Paulo. Outra porção superior era das mulheres; presentes, respondiam a noventa por cento da totalidade, garantindo um clima de alegria vibrante, colorido e permanente entre todos, numa fraternidade solidária e inclusiva.
Do objetivo específico, dessa mega experiência brotaram as centenas de citações utilizadas em nome do querido Papa Francisco, que proclamando o Ano da Vida Consagrada permitiu, encorajou e incentivou a todos com um mandato de fazer a Igreja viver esse momento benéfico com gratidão pelo passado, paixão renovada e encantamento pelo momento presente na real esperança para o futuro, realidades repetidas à exaustão, justificando engajamento contagiante, atenção e a participação efetiva.
Luzes brotaram fartamente da convivência intercongegacional, desde a riqueza criativa das vestes até a multiplicidade dos pequenos encontros, os diálogos em forma de “cochicho”, os plenários abarrotados de pessoas desejosas por deixar seus dizeres a toda assembleia; dos que puderam passar rápida ou mais demoradamente ao longo da semana, como o cardeal e os diferentes bispos, agradecidos animadores da presença da Vida Religiosa na história da Igreja do Brasil; dos evangelizadores pelo canto como o Pe. Zezinho em restabelecimento, e a querida Ir. Miria; dos testemunhos compromissados na Consagração laical, as novas experiências e formas de Vida Religiosa, os Institutos Seculares de Vida Consagrada, Ordens e congregações de caráter contemplativo ou mergulhadas no mundo da ação, compondo um harmonioso mosaico, pronto a dar razão à própria esperança (1 Pd 3,15) ali fortemente cultivada
Luminosa e radiante foi a permanência durante todo encontro do grande sábio e discretíssimo amigo, D. Pedro Brito Guimarães, Arcebispo de Palmas, cuja presença silenciosa fazia contraste à ruidosa, inquieta e imprescindível alegria de Zé Vicente, que juntamente a animadores do regional de Salvador- BA e São Paulo fizeram a festa acontecer em meio à multiplicidade de ritmos e sons, sobretudo na noite cultural. Voltar à quietude era tarefa árdua do Pe. Mirim, enquanto a organização disciplinada de tudo deveu-se à Diretoria Nacional, repartida em múltiplas equipes responsáveis pela Liturgia; a arrumação e limpeza do espaço de Eventos a cargo da equipe local; pessoal do balcão de acolhida e distribuição de material, a fidelidade dos que recolhiam assinaturas visando apoiar o projeto político encabeçado pela CNBB no desafio de recolher imediatamente 2 milhões de assinaturas, para não caducar, e ainda moderadores ou outros incontáveis colaboradores, sem os quais seria impossível atender a tudo! Parabéns a todos (as)!
Compreenda o que foi descrito até aqui, como moldura luminosa de uma grande pintura, alegre-se com o que foi possível visualizar, partindo dos elementos escritos, junte ao recolhido em sua prática com o auxílio dos textos “Alegrai-vos” ; “Perscrutai” e ainda pela pequena e delicada carta do papa dirigida a todos os Consagrados e as Consagradas, assim torna-se possível compreender e aquilatar os elementos das palestras e seminários apresentados como temas formativos e centrais do que foi celebrado.
Como esquecer as palavras empenhadas que fizeram a memória histórica da Conferência, proferida pelo Pe. Geraldo, que tentou e conseguiu resgatar o caminho percorrido pela CRB no Brasil, luzes e sombras desafios vencidos ou por vencer, tudo vislumbrado sob a ótica do Deus que se manifesta sempre. As linhas gerais e as forças internas existentes nos documentos acima citados, foi tarefa para o conhecido mestre Pe. Paulo Suess, culminando com a Celebração Eucarística de abertura presidida pelo atento Cardeal de Aparecida, D. Raimundo e já era bem noite quando tagarelando, seguiram para o jantar.
Dia belíssimo em dinâmicas e conteúdo foi o segundo quando ouvimos a perseverantemente fiel Ir. Annette com seu suave sotaque, apresentar na simplicidade de parábolas, alternadas por momentos de oração a riqueza do mistério do Reino, que nos alcança a partir do simples (semente, joio, mostarda, fermento, tesouro). Depois no mistério, acolher o processo Mistagógico, apresentado belamente pela Profª Rosemary Costa, após a conferência inicial recebeu tempo complementar, para visualizar na prática, em oito passos, um exercício. Experiente no processo pôde manifestar autoridade ao ensinar.
“Lectio Divina”; Eucaristia presidida por D. Jaime, celebração da Luz, conforme o início desse texto, nada de reclamar, apresentar queixas indevidas, dificuldades inúteis ou itinerantes, nada de saudosismos ou tristes “ais”. Celebramos um Congresso de oportunidades e perspectivas para a vida consagrada no mundo contemporâneo na integridade da missão, nas palavras do Ir. Afonso Murad, fms, escancarada na face de todos, seguido pelo tratado mais ampliado do tema, realizado pela visitante geograficamente mais distante: Ir. Mercedes Sánches, fsps presidente da ClAR, trazendo as luzes e esperanças da A.L.
Naturalmente a esses conteúdos somente poderiam seguir testemunhos: foram tantos, sérios, valiosos, aplaudidos e reverenciados, somados na Eucaristia presidida por D. Sérgio, que a muitos alegrou com seu canto no solene envio da Ir. Marlene Avanzi, para auxiliar na missão do Haiti. A comunidade fez também gestos concretos de partilha com aquela missão, que rendeu quase R$ 25.000,00 fazendo eco à generosidade da CNBB, que destinará parte significativa da Coleta da CF para esse benéfico fim. Um dia assim somente poderia terminar em clima de festa, lançamento de livros, já disponíveis na CRB /SP e generalizada alegria, o insistente canto da Cigarra, saída da terra, depois de hibernar, recolocada ao sol.
Felizmente, não chegou o momento de fazer tendas e ali acamparmos (Lc 9,28-36) em meio à alegria do evangelho vivido ou do ambiente cordial reinante, era preciso colocar-se novamente a todos em caminho (sugestão do Papa em missa do dia 10/02) e isso o dia final profeticamente nos recordou.
Importa “ouvir o gato” na parábola de D. Pedro e seguir apressadamente de missão em missão, o itinerário da vontade desafiadora e inquietante do Deus, que continua a tocar naquilo que é mais profundamente essencial, (testemunho de D. João Aviz) fazendo gerar entre todos, (as) Vida plena e abundante (Jo 10,10).
Pe. Rubens Pedro Cabral, omi – Coordenador CRB/SP.